Escultura\Escultura de vulto

MN.MA.1.011 esc

São João de Deus

"A figuração enquanto patriarca da ordem, trajando hábito monástico e coroado de espinhos, reproduz os cânones mais antigos com que o santo alentejano é representado em escultura. Envolve na mão direita a haste de uma cruz cortada por dois braços e, na sinistra, delineando gesto de maior amplitude, uma romã encimada por cruz e estrela, símbolos escolhidos para as armas heráldicas da Ordem (Borges 2007, p. 343). A presença constante da romã neste tipo iconográfico, para além do próprio vocábulo castelhano, granada, expressar directamente o lugar de implantação da sua obra, remete para uma passagem relatada pelo biógrafo Dionísio Celi, em 1621 (Idem), em que Jesus Menino lhe terá dito "João, Granada será a tua cruz". O expressivo humanismo do rosto enlevado, imberbe mas com indicação subtil da barba, reproduz nos traços gerais o retrato pintado, três anos antes da sua morte, por Alonso Sanches Coelho, em 1547. Em termos compositivos, o elegante contraposto da cabeça e quase imperceptível avanço da perna esquerda, não anulam nem a austeridade dos ritmos verticais nem o hieratismo e frontalidade da pose, característicos da escultura seiscentista. O corpo, totalmente oculto por escapulário largo e rectilíneo, apenas se insinua timidamente na marcação de uma pequena prega transversal, a interpretar a flexão da perna. Apenas os braços se destacam numa gestualidade concertada com o modelado mais vigoroso e abundante das mangas. Saliente-se o minucioso trabalho estofado em ramagens acantiformes, visível lateralmente no hábito negro, ou na inclusão de conjuntos de pequenos vidros brancos de talhe irregular, e azuis e volta do capuz, formando grupos desiguais de flores estilizadas." (Nogueira 2010 - Arte Sacra no Concelho de Montemor-o-Novo: Inventário Artístico da Arquidiocese de Évora, Évora, Fundação Eugénio de Almeida, 2010).